Na fé hebraica do nosso Antigo Testamento só os reis e os sacerdotes eram ungidos de forma muito especial.
A unção era o ritual, o sinal marcado sobre o eleito por Deus que o nomeava para uma missão.
Para a unção era usado o óleo extraído da azeitona, o azeite.
A oliveira desde sempre foi apreciada por muitos povos, era uma árvore comum na Palestina. É incrível como chega a viver centenas, até milhares de anos.
Depois de prensado o fruto obtém-se um óleo precioso pela riqueza das suas propriedades.
O azeite é usado já pelos povos antigos para iluminar, com as lamparinas e as candeias.
É usado também para tratar das feridas, para aliviar as dores e acelerar a cicatrização.
As grandes propriedades deste óleo são as de Iluminar e de Acalmar as dores das Feridas.
Derramar este óleo como sinal sobre a cabeça de um eleito de Deus, ungir os pés de um importante hóspede ou ungir todo o corpo (por exemplo, dos defuntos) queria significar muito.
Iluminar e Sarar.
Podemos agora começar a entender melhor o alcance que tem a expressão “Ungido”.
Ao longo de toda a nossa História à procura de Luz e Cura quisemos encontrar o rosto de alguém, de um de nós, um líder que fosse capaz de nos iluminar o Caminho em direcção a uma Terra Justa, um lugar onde só a lógica de Deus reinasse.
Quisemos encontrar o rosto de alguém, de um de nós, um líder que fosse capaz de sarar as feridas que vamos umas vezes provocando, outras vezes sofrendo ao longo deste longo caminhar.
É disto que fala o Antigo Testamento… canta de tantas maneiras a procura cheia de esperança de um povo à procura de um rosto dos nossos, com uma missão da parte de Deus, que tivesse a ousadia de apontar o Caminho que sai da opressão de todos os “Egiptos”.
Um líder.
De quem se poderia esperar esta liderança senão de um rei, ou da mediação de algum sacerdote?
Depois de muito caminhar, o povo da esperança, desesperou de tantos reis e mediadores incapazes e infiéis no cumprimento da promessa sonhada, esperada, feita Aliança entre Deus e o Seu povo.
O Ungido de Deus passou a ser um rosto demasiado perfeito para ser possível, aquele que haveria de aparecer um dia, para apontar o caminho em direcção a uma utopia, um mundo demasiado perfeito para ser possível de existir.
Hoje, só as gentes que são “os restos” do mundo “civilizado”, e a grande maioria, é que sabe o que é esperar o impossível, esperar o líder que estabeleça finalmente a justiça.
O mundo que se diz “civilizado” já não precisa de um salvador, porque não sente necessidade de ser salvo, e só consegue colocar a miséria e a pobreza daquele que chamamos Terceiro Mundo, bem longe dos olhos, bem longe do Coração… sem nome e sem rosto e por isso sem compromisso da nossa parte.
Fomos, ao longo da História, fixando-nos demasiado na mão e no “dedo” do Ungido de Deus, de tal maneira que nos esquecemos já de olhar para onde aponta.
Jesus de Nazaré é uma presença estéril, vazia, na nossa vida se não deixarmos que ele aponte para fora dele próprio.
O Caminho rasgado nas entranhas do Tempo não acaba no nazareno, ele aponta e leva-nos com ele se o seguirmos. Este Jesus é o Primeiro, o já nascido no colo do Abba, ele é o Ungido, o Messias, o Cristo de Deus que aponta o Caminho.
A pergunta NUNCA deveria ser:
“Então, vamos lá ver, quem é Jesus?”
Resposta: “Jesus é Cristo, o Filho de Deus”
MAS SIM: “Quem é o Ungido de Deus, o Messias, como é o rosto do Cristo que esperamos, o Líder que nos libertará de toda a opressão, aquele em quem temos esperança que nos mostre o Caminho da Justiça até ao mundo que iremos construir e onde só Deus-Amor pleno reina?”
Resposta: “O Ungido, esse é Jesus, o de Nazaré!”
É esta pergunta certa e fundamental à qual todo o Novo Testamento responde, como se nele ainda se escutasse o eco, o clamor da pergunta que sempre existirá no Coração de cada ser humano. E o Novo Testamento dá-nos uma resposta.
Temos um rosto, um nome, uma pessoa, um de nós… o Ungido é Jesus.
É curioso como são raras, e nada ao acaso, as expressões hebraicas que foram escritas nos Evangelhos (escritos em grego), como por exemplo, Rabi ou Abba.
Embora a expressão grega - CHRISTOS, surja inúmeras vezes ao longo de todo o Novo Testamento, ela aparece traduzida nas nossas bíblias como Messias, e a verdade é que MESSIAS - expressão hebraica, só aparece literalmente duas vezes, no Evangelho segundo João.
“André encontrou primeiro o seu irmão Simão, e disse-lhe: «Encontrámos o MESSIAS!» é o mesmo que dizer Cristo”
Jo 1,41
“Disse-lhe a mulher samaritana. «Eu sei que o MESSIAS, que é chamado Cristo, vem. E quando vier, há-de anunciar-nos todas as coisas.»”
Jo 4,25
E vejo por estes duas passagens como é fundamental reconhecer, apontar e seguir aquele que acreditamos ser o Ungido, tal como fez André.
E vejo como isto não é coisa de uns poucos que acham que sabem tudo sobre Deus… este Ungido é para todos, também para aquela samaritana, uma “excluída” do povo “eleito” e “santo”, declaradamente “ignorante” pelos povos “sábios” e “civilizados”… e ainda por cima, uma mulher. O que é certo é que esta mulher fez o mesmo que André, reconheceu, apontou, e seguiu este que acreditou ser o Ungido de Deus.
Sentiram que o Caminho era por ali, era por ele.
E como é esse Caminho? Tem alguma coisa de mágico? É a solução milagrosa para todos os males?
Não.
Este Messias de Deus, este Ungido, este esperado desde sempre é o Crucificado, o Assassinado.
Esse crucificado é que é o Messias de Deus.
Porque é assim que se morre quando não se pactua com qualquer lógica de opressão…
Porque é assim que se morre quando se acredita no sonho da esperança:
É possível começar a construir e a viver agora o Reino Humanizado, Feliz, (A)jus(tado) a Deus-Abba-Amor Pleno.